A Globo aposta em uma empreitada bem mais brasileira do que Negócio da China para a próxima novela das seis. A temática rural e o estilo contemplativo de Benedito Ruy Barbosa vão ocupar o horário no "remake" de Paraíso. A trama fez sucesso em 1982 com os protagonistas Kadu Moliterno e Cristina Mullins nos papéis de José Eleotério e Santinha. Na nova versão que estreia em março, Eriberto Leão e Natalia Dill é que encarnam o casal central.
Toda a história se passa na cidade interiorana de Paraíso. José Eleotério é considerado "filho do diabo" e Santinha leva a fama de ser uma jovem milagreira. Os dois vivem uma grande paixão e em torno dessa história de amor as tramas paralelas se desenvolvem.
Eriberto, Alexandre Nero e o cantor Daniel gravaram suas primeiras cenas como os peões José Eleutério, Terêncio e Zé Camilo, respectivamente, em meio a mais de mil cabeças de gado no Mato Grosso. Eriberto é um peão que gosta de levar a vida pelas estradas tocando comitivas. Por já dominar a equitação, o ator não precisou de aulas para montar seu cavalo tordilho (branco), diferentemente do cantor Daniel, que interpreta um músico que faz parte da comitiva e nunca havia montado um típico cavalo pantaneiro. O personagem é um solteiro convicto, mas encanta as moças com o som de sua viola. O prefeito da cidade fictícia de Paraíso é Norberto, personagem de Leopoldo Pacheco.
– Faço aquele tipo de político raro. Norberto é bom caráter e faz de tudo pelo bem da cidade – adianta o ator, empolgado em viver o papel que foi de Sérgio Britto na primeira versão. – Se eu encontrasse o Sérgio ia perguntar vários detalhes por curiosidade, mas não me baseio no que já foi feito – reitera o ator.
Recorrer a tudo o que já foi feito na primeira versão, no entanto, parece ser a prática adotada por Edmara e Edilene Barbosa, filhas de Benedito responsáveis pela adaptação de Paraíso. Quando dois jovens chegam do Rio de Janeiro querendo comandar a rádio de Paraíso, o prefeito pensa que está sendo perseguido.
– O Norberto acredita que são agentes do governo querendo derrubá-lo – confirma Leopoldo.
Essa era uma realidade crível na época em que o Brasil tinha um governo militar – e quando o folhetim foi exibido pela primeira vez – mas que perde o propósito ao ser transportada para os dias atuais.
Na verdade os rapazes são Otávio (Guilherme Winter) e Ricardo (Guilherme Berenguer), recém-formados em Comunicação que estão em busca de emprego. Carlos Vereza, que já chamou a atenção em outras novelas de Benedito, como em O Rei do Gado, quando viveu o senador Caxias, será o padre da cidade. Na história, Vereza é um religioso que joga sinuca.
– Já que a população não tem dinheiro para colaborar com as obras o padre joga, ganha e investe na igreja – conta o ator.
A intenção é estrear com 15 capítulos já finalizados e o diretor conta com a preparação do elenco para isso.
– Muitos já conhecem o estilo do Benedito e fica bem mais fácil trabalhar. Pretendemos voltar ao Mato Grosso eventualmente – afirma Rogério Gomes, o Papinha, que assina a direção.